HOMILIA NA EUCARISTIA DA
FRATERNIDADE DE NUNO ÁLVARES
Seminário de Santa Joana, 22 de Outubro de 2011
1. Reunimo-nos em dia de Jornadas Nacionais da Fraternidade Nun’Álvares em dia de vigília de Domingo. O domingo deve ser vivido como dia particularmente dedicado ao Senhor. Foi no dia primeiro da semana que Jesus ressuscitou e que o Pentecostes aconteceu.
Viestes de todo o País para celebrardes aqui no coração da Diocese de Aveiro que é o Seminário e no centro mesmo desta cidade as Jornadas Nacionais da Fraternidade Nun’Álvares, dizendo-nos como é vosso lema que estais. Alerta Para Servir. Trazeis, convosco e em vós, longas e belas experiências vividas no Escutismo Católico Português, (o CNE), e agora colocadas já, na idade adulta que é a vossa, ao serviço das mesmas causas e fazendo permanecer os mesmos princípios e valores.
Sede bem vindos.
2. Celebra a Igreja nesta semana que amanhã culmina o Dia Mundial das Missões. O Santo Padre Bento XVI dirige-nos uma bela e oportuna mensagem, desenvolvida a partir da palavra de Jesus: «Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós» (Jo 20,21).
Lembra-nos o Santo Padre e sabemo-lo todos que o «anúncio incessante do evangelho vivifica também a Igreja, o seu fervor e o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais para que sejam cada vez mais apropriados às novas situações: A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece! A nova evangelização dos povos cristãos também encontrará inspiração e apoio no empenho pela missão universal».
A tarefa de evangelizar não perdeu a sua urgência. Evangelizar é a graça e a missão da própria Igreja. E esta missão empenha todos, tudo e sempre. O evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas constitui uma dádiva a compartilhar, uma boa notícia a comunicar.
Que o «Dia Mundial das Missões, conclui o Santo Padre na sua mensagem, reavive em cada um de nós o desejo e a alegria de «ir» ao encontro da humanidade levando Cristo a todos».
3. Foi assim, irmãos e irmãs, que aconteceu no Pentecostes, o primeiro dia missionário, em que Pedro fortalecido pelos dons do Espírito Santo e como porta voz de todos os discípulos reunidos com Maria, Mãe de Jesus, no Cenáculo, sai para a cidade e vai ao encontro da humanidade ali presente anunciar Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
É assim que acontece hoje, quando convocados pelo Senhor e reunidos em nome de Cristo sentimos o apelo à evangelização e saboreamos a força de o fazer. «Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós» ( Jo 20, 21). Esta nossa Assembleia deve ter este horizonte e beber da fonte inspiradora deste dinamismo missionário, consolidando os grupos que somos e abrindo mais caminhos de missão.
4. Vem ao encontro desta urgência e desta pedagogia duma nova evangelização a própria Palavra de Deus que hoje escutamos. S. Paulo escreve à comunidade de Tessalónica. Esta comunidade aprendeu a percorrer com Cristo e com Paulo o caminho do amor e o dom da vida. Apesar das hostilidades e das perseguições. O exemplo de Paulo cumprido na alegria e na dor tornou-se verdadeira semente de fé e de amor, que deu frutos noutras comunidades cristãs do seu tempo (cf 1 Tes 1, 5-10).
Também o nosso testemunho cristão, vivido com alegria e generosidade, pode e deve ser semente de evangelização levando em tudo, a todos e sempre a boa nova de Jesus Cristo.
Esta boa nova de Jesus está caldeada e impregnada dos seus ensinamentos e está expressa nesta bela síntese do evangelho de hoje. «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito. É este o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois mandamentos se resumem a Lei e os Profetas» ( Mat 22, 37-40).
À luz desta mensagem de Jesus compreendemos ainda melhor o texto da primeira leitura em que a palavra do Senhor nos interroga e interpela sobre o nosso modo de cuidar com amor igual dos mais frágeis, dos mais pobres e dos mais humildes. (Ex 22, 20-26).
No tempo do Êxodo e no tempo de Jesus vivia-se numa sociedade de desiguais, em que muitas vezes a discriminação se institucionalizava e em que o padrão da vida era o individualismo. A fé em Deus e o amor para com o próximo expressos na resposta dada por Jesus, na advertência do autor do livro do êxodo e no testemunho exemplar de Paulo e da comunidade de Tessalónica abrem-nos a esta tríplice dimensão: para com Deus, para com os outros e para connosco próprios. Do amor primeiro para com Deus nasce este amor inquieto para com os irmãos que nos leva a fazer do anúncio do evangelho uma missão e do amor aos irmãos uma urgência e um serviço. É um amor de doação de todos, em tudo e sempre, que faz de cada gesto um reforço do crescimento pessoal e uma expressão de solidariedade fraterna.
Este amor impresso na resposta de Jesus é a força da missão, que neste domingo e nestas Jornadas se deve viver e celebrar com especial atenção e solicitude.
5. Faço votos e rezo ao Senhor nosso Deus para que as Jornadas aqui realizadas, a reflexão aqui feita e os propósitos e compromissos aqui assumidos consolidem a Fraternidade nos objectivos que se propõe e façam de cada um dos seus membros cristãos empenhados na missão e mensageiros felizes e corajosos da boa nova de Jesus a todos, e tudo e sempre como nos pede e propõe o Santo Padre. Que também aqui na vanguarda do testemunho cristão e do anúncio do evangelho saibais estar «alerta para servir».
Que Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe, presente no Cenáculo na manhã do Pentecostes nos ilumine e abençoe neste caminho de missão e nos fortaleça na perseverança e na alegria e que S. Nuno de Santa Maria, Nun’Álvares Pereira, vosso patrono e modelo a todos abençoe com a sua protecção.
+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro